Pedro Luiz Martins Cruz

Pedro Luiz Martins Cruz

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Autonomia: A técnica mais poderosa

Pessoas, times e empresas que usam autonomia com maestria alcançam realizações excepcionais e em escalas maiores. Em ambientes com alta autonomia a capacidade de adaptação é impressionante, além disso também vemos mais responsabilidade, colaboração e respeito.

24/abril/2022 - 12 minutos de leitura

Definição

Como autonomia é um termo usado com diferentes significados vamos começar pela sua definição mesclando os estudos de física, educação, psicologia, político-administrativa e moral.

Física - Para um veículo movido a motor (navio, avião, automóvel etc.), autonomia é a distância percorrida com o consumo total do combustível a bordo.

Educação - Autonomia está ligado à condição do aluno de organizar seus próprios estudos, buscando fontes de informação e conhecimento, e construindo um saber ligado aos seus próprios objetivos.

Psicologia - Autonomia é ser dono de seus próprios sentimentos, de suas próprias atitudes.

Político-administrativa - Autonomia político-administrativa é o poder das entidades/territórios de fazer as suas próprias leis e administrar os seus próprios negócios, sob qualquer aspecto, de acordo com as normas e princípios de sua existência e sua administração.

Moral - segundo Kant 1724-1804, autonomia é a capacidade da vontade humana de se autodeterminar segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida, livre de qualquer fator estranho ou exógeno com uma influência subjugante, tal como uma paixão ou uma inclinação afetiva incoercível.

Não confunda

Importante não confundir autonomia com liberdade sem consequências. Autonomia está ligada a liberdade, mas não elimina as consequências dos atos. Quando uma pessoa ou entidade é autônoma ela toma decisões e portanto tem atitudes próprias, mas as outras pessoas e entidades poderão reagir às suas atitudes.

Autonomia está ligada a capacidade, mas não significa que a capacidade é infinita ou que todas as habilidades foram adquiridas e nenhuma dificuldade será enfrentada. Autonomia é usar a capacidade existente para agir e tomar decisão, então é possível aprender para ter mais capacidade e com isso melhorar o uso da sua autonomia.

Outra confusão possível é com as influências externas. O importante neste quesito é que para entidades ou pessoas autônomas as influências externas não determinam suas ações, na verdade as influências externas são usadas pela entidade ou pessoa para avaliar suas próprias regras e valores para aí então determinar suas próprias ações. A entidade ou pessoa tem discernimento total ou parcial das influências e as considera ou não, da forma como lhe couber.

Níveis de autonomia

O psicólogo francês Jean Piaget estudou o desenvolvimento humano e moral e classificou os níveis de desenvolvimento pela ótica da autonomia dividindo em 3 fases: anomia, heteronomia e autonomia.

Os estudos de Piaget são uma excelente representação para entender o poder da autonomia. Mas sabendo que cada ser humano é diferente um do outro e com o cuidado de não rotular como se todos fossem iguais e os níveis pudessem simplificar uma visão sobre todos, vamos considerar os níveis estudados por Piaget como um exemplo ou abstração. Cada pessoa pode estar em diferentes níveis para diferentes capacidades que possui.

Anomia

Esse nível possui características fortes de não entendimento das regras e com isso as pessoas ou entidades aqui falham constantemente em entender e seguir as regras.

Heteronomia

Nesse nível as regras são entendidas e seguidas. Talvez alguns momentos encontre dificuldade mas sabe-se das existências das regras, sabe-se quando é seguida ou quando falha e se algo acontece aprende e melhora. Mas as regras são determinadas por outra pessoa ou entidade.

As pessoas ou entidades no nível de heteronomia não escolhem as leis e regras, talvez influencie de alguma forma ou talvez crie informações para avaliar as regras, mas não conseguem ou podem mudar as regras e leis.

Autonomia

Quando o nível de autonomia é alcançado, significa que a pessoa ou entidade entende as regras e leis, sabe lidar com elas, sabe tomar decisões próprias e tem a capacidade de escolher novas regras e leis.

Aqui as capacidades estão desenvolvidas em níveis bons, o ambiente permite o uso da autonomia, as pessoas e entidades são menos dependentes e controladas. É nesse nível que realizações extraordinárias acontecem. Pessoas e entidades autônomas possuem alta adaptabilidade ao que surgir, pois conseguem entender as leis e regras, conseguem tomar decisões, consegue criar novas leis e regras dentro de suas responsabilidades, dentro de suas capacidades, considerando as consequências de suas atitudes.

Quanto mais autônomo uma entidade é, mas possibilidades de alcançar bons resultados ela possui. Quanto mais autônoma uma pessoa é, mais realizações ela se torna capaz de conseguir.

Níveis dentro dos níveis

Pode existir níveis de autonomia onde poucas ou muitas decisões próprias são tomadas. Isso vai depender tanto da capacidade da pessoa quanto da liberdade que ela tem dentro do ambiente.

Também em anomia e heteronomia podem existir diferentes níveis, por exemplo em heteronomia pode existir situação com dificuldade na compreensão das regras mas a pessoa ou entidade busca segui-las copiando outras pessoas ou entidades. Pode também saber das regras mas não entende suas origens e razões. Pode inclusive ter pleno conhecimento das regras e razões e segui-las muito bem.

Vamos fazer um bom uso dos estudos de Piaget buscando melhorar os níveis de autonomia.

Desenvolvendo autonomia

Vamos conectar os estudos de Piaget com outro psicólogo, Vygotsky propõe nos seus estudos que o ambiente precisa desafiar o indivíduo para ele se desenvolver. Mas o indivíduo pode ter dificuldades para se desenvolver, ou seja, o desafio tem que ser o suficiente para gerar o aprendizado, não sendo nem tão fácil que nenhum desenvolvimento seja necessário e nem tão difícil que o desenvolvimento seja impraticável.

Podemos aplicar isso tanto a pessoas quanto grupos de pessoas que formam entidades. Um grupo de pessoas que entende as regras do ambiente, discute as regras, toma decisões, muda as regras, aprende e se desenvolve pode ter bom nível de autonomia e pode aumentar seus níveis de autonomia se desafiando e criando novas capacidades.

Voltando às definições usadas no início do texto, uma entidade ou território (país, cidade, organização…) é autônomo quando define as próprias regras e administra seu ambiente.

Em países democráticos as pessoas praticam maior grau de autonomia. Em empresas com menos hierarquia e mais colaboração as pessoas praticam maior grau de autonomia. Em times autogerenciáveis ou autoorganizados as pessoas praticam maior grau de autonomia.

As metodologias ágeis incentivam e proporcionam ambientes com times autogerenciáveis ou autoorganizados. O Scrum por exemplo tinha em sua definição o uso de times autoorganizados e na atualização do ScrumGuide de 2020 passou a usar autogerenciáveis para dar mais força e buscar níveis maiores de autonomia nos times. O Lean e o Kanban usam sistemas puxados onde cada passo do fluxo tem autonomia para puxar o trabalho quando existe capacidade para executar o trabalho.

As metodologias ágeis são excelentes formas de melhorar os níveis de autonomia. Veja mais sobre métodos ágeis nos nossos artigos:
Quais são as metodologias ágeis?
O que é Kanban?

Empresas que praticam níveis elevados de autonomia usam constantemente o termo autogestão. No livro Reinventando as Organizações de Frederic Laloux são apresentados estágios de desenvolvimento das organizações, detalhado empresas que estão em cada um dos estágios e é descrito por Laloux que as empresas mais evoluídas possuem 3 pilares: Autogestão, Propósito Evolutivo e Integralidade.

Olhando pela ótica da autonomia e conectando com os estudos de Piaget e Vigotsk podemos entender que o propósito evolutivo faz o ambiente estar em crescente desenvolvimento, a integralidade permite uso de diferentes capacidade e as respeita, proporcionando assim um ambiente com desenvolvimento da autonomia para alcançar a autogestão.

Autonomia é o maior poder que pessoas, times, grupos de pessoas que formam entidades podem usar para alcançar realizações realmente excepcionais. Mas a autonomia precisa ser desenvolvida dando liberdade e desafiando para proporcionar crescimento. Quando cresce mais autonomia é dada. Precisamos constantemente evoluir a autonomia.

Veja um pouco mais no nosso treinamento gratuito

Vale a pena ver nosso treinamento gratuito de Modelos de Maturidade, citamos os modelos de desenvolvimento humano de Piaget, desenvolvimento moral de Kohlberg e também os níveis organizações segundo Laloux no Reinventando as Organizações.

Treinamento de Modelos de Maturidade

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